Quem diria, estou voltando ao normal! Graças a Deus....

Queridos amigos:

Sou eu mesma, parece que ressuscitada! Santa pretensáo, mas é assim mesmo que estou me sentindo!

Vou começar hoje primeiro agradecendo a Deus pela fé que tem me sustentado, principalmente nos momentos mais difíceis.

Por muitas vezes, pensei que não conseguiria ultrapassá-los, preciso confessar.

Não quero me vitimizar mas tenho atravessado momentos de muita fraqueza. Desmotivada por conta dela, da expectativa de tantos dias acamada, ainda pela frente; pela diarréia que foi a sequela direta de cada ciclo de quimio que fiz desde agosto/08 e que resolveu prejudicar especialmente o intestino; pela febre que estava me derrubando e afundando cada vez mais na cama; pela falta de agenda nos próximos 90 dias (dez já se passaram dos cem dias iniciais previstos como mais complicados); pela falta de perspectiva do que fazer neste período tão prolongado, e especialmente, pela ida precoce da Dalva, enfim...

MAS ESTÃO FICANDO PARA TRÁS!!! Como a Márcia disse (paulista, conheci-a na comnidade "Eu tenho leucemia" e que tem me ensinado dia após dia), TUDO PASSA). E já estáo se passando e começo a vislumbrar um horizonte mais azul!

Minha recuperação começou ante-ontem, desde que fiz a consulta com a dra. Lígia (minha santa hematologista, a qual continuo pedindo orações pois está atravessando um momento dificil com dores e parada forçada na sua grande agenda, por conta de um tratamento médico - sim, até os médicos adoecem!). Enfim, mesmo com o afastamento da maior parte dos seus trabalhos, ela me atendeu (eu e outros privilegiados), na quarta äs oito da manhá. Fui levada pelos meus filhos Rodrigo e Juliana, com assessoria da minha irmá Vera. Acho que ela se impressionou quando me viu...

De cara, me indicou uma grande hidratação, via venosa. Acho que a mágica começou por aí...rs...

Fiquei ali por 3 horas, deitadinha ao lado de outras pessoas que faziam quimio, recebiam medicação especializada, enfim. É bom lembrar que eu estava numa clínica grande, especializada em hematologia e oncologia.

Com a santa intercessáo da dra. Lígia que me indicou antibióticos, alguns novos remédios, e uma série de exames laboratoriais, começou a reação lentamente. Saí dali direto para o Santa Luzia, igual a uma boneca semi-viva...rs..Me colocavam na cadeira, eu ficava, me tiravam para outra cadeira, eu ia, nem dizia nada... Podiam fazer de mim o que quisessem, eu estava sem forças mesmo, fraquinha como poucas vezes fiquei... Os remédios náo fizeram efeitos na hora, claro. Náo tem mágica prá levantar quem está táo derrubada...rs.. Eu só queria uma cama. Me deitar, ficar sozinha com os olhos fechados, sem pensar, sem fazer nada. Pensava só que estava sendo muito dificil viver. Imagine comer e beber...

Mas voltei para a cama que eu queria tanto. Deitei, quer dizer, me atirei nela. Tiraram minha bota, troquei a roupa que pude, mas pedia para me deixarem assim que logo que desse, eu levantaria.

Náo sei como foi, só sei que foi assim...rs.. De repente, náo mais que de repente, me levantei. Sentei na cama, precisava ir ao banheiro. Nem pedi ajuda para Jú, minha filha e cuidadora do dia. Aliás, ela dormia. Nem ousei chamá-la. Podem acreditar, mas eu até estranhei este momento. Levantei quase firme, sem bambalear (?) as pernas, sem tontura, olhando pra frente! Fui pro banheiro devagarinho para nao acordar a Ju, muito menos, estragar o bem estar que eu sentia! E sai dali direto para a sala. ANDANDO sozinha! Para quem leu como eu estava, sabe do progresso... A boneca semi-viva, ressuscita! Foi o meu primeiro pensamento! E é assim que me sinto. Ressuscitada. Viva de novo! Meu Deus, obrigada!

Os exames confirmaram a infecção no intestino, agora sob controle com os antibióticos, felizmente. Confirmaram também o estado de desitraçao que eu estava. Mas confirmaram coisas boas: a medula tinha reagido mesmo! Hematócrito, plaquetas e leucócitos dentro do normal para pós-transplante de medula óssea.

Náo posso ter infecçao e logo me assustei com o quadro. Mas já fui tranquilizada. Até pelo meu corpo que respondeu divinamente. Parou a diarréia (parou na marra, com remédios, mas parou), a febre, o mal estar generalizado... Voltou o apetite parcialmente, tenho ingerido liquidos a todo momento, e estou até inspirada para escrever. Esta é a maior prova de que estou bem, né? Continuem dobrando as oraçoes, amigos. Sei que estou vivendo um momento um pouco mais sensível, avaliado sempre pela médica. Mas o que mais importa, é como estou me sentindo. E eu me sentindo muito bem!

Os efeitos pós-transplante estáo se atenuando, minha boca começa a melhorar visualmente, o paladar já está começando a voltar, os sentidos já estao se normalizando, e tudo está voltando a ficar bem. Procuro ficar menos tempo na cama, começo a ter prazer novamente por atividades cotidianas: tomar banho é bem mais fácil, escovar os dentes náo está mais táo dificil, andar, quem diria, está sendo mais fácil, ficar sentada, ah que prazer!.. Enfim, náo parece mesmo uma ressuscitaçao?

Ontem ganhei panquecas de carne moída da máe, feita pela Cléo (que trabalha na casa da máe). Nossa, nem acreditei quando senti vontade de comer ao menos um pedaço. Foi táo bom que até comi-a toda! Depois, descobri que ficar comento cenouras cruas, cortadinhas em palitos, era uma maravilha! E maça fugi, roidinha? E o sopáo de carnes e legumes, deliciosa, feita pela máe do Rodrigo, namorado da minha Nandinha! Que delícia tudo isto... Nossa, talvez vcs nao entendam nada. Estou parecendo uma maluca. Mas é assim que estou...

Vou encerrar, meu corpo já mostra sinais de que preciso parar agora, com um poema maravilhoso, escrito por um tio, que mora em Brasília, mas é dos expoente da literatura catarinense (antes ele morava por aqui). Com isto, homenageio hoje minha grande família que tem talentos assim, táo especiais quanto ele!

É táo lindo o poema, que vai ser o encerramento deste texto. Antes do poema, tem um belo comentário de uma amiga sua, chamada de Regina, que publicou-o tbem eu seu blog. Vou anexar os dois, o comentário dela que peço licença para ser meu também, e o poema que faz uma homenagem a nossa bela cidade de Florianópolis:

reginaPublished by Regina em seu blog, em April 23, 2008 in Coisas de amigo.

O Emanuel Medeiros Vieira é escritor e poeta, mané da Ilha, mas morando em Brasília há muitos anos. Mandou aviso deste poema no blog LESMA LERDA, e senvergonhamente me apossei. Pela razão muito simples de que me encheu os olhos de lágrimas, saudades dessa Desterro de que ele fala... E da infância, em que a gente é outra pessoa... Machado disse: "O menino é o pai do homem", e estava certo, como sempre. Mas não sabíamos ainda que adulto se gestava em nós, e brincávamos por uma cidade pequena, livres e à vontade como o vento...

DESTERRO

Desterro cumpriu-me

e cumpriu-se.

O rio começava atrás de casa

(como eu),

e foi embora - afluentes.

Vento sul, Campo do Manejo, Rita

Maria, Rio da Avenida, Miramar,

bala queimada, Catecipes, Praia do Muller,

procissão do Senhor Morto, Cine Rox,

gibis, Grupo Escolar Dias Velho,

Chico Barriga D´Água, paixão camuflada pela menina

da Rua de Cima - ela nunca soube.)

Só enuncio: acumulo - sobrecarregado.

O rio foi embora.

Casa demolida, mãe na soleira da porta, pitanga no

quintal, regata na Baía Sul, matracas, turíbulos, trapiche da

Praia de Fora, gaita-de-boca, groselha, tainha frita,

fogão de lenha, beliches, pé de amora.

Perdeu-se o rio: não sei do seu delta.

Perdi-me: tiro certeiro na gaivota.

A rua pequena, era a maior do mundo - coração.

Desterro inunda-me:

outrora/agora.

Emanuel Tadeu Medeiros Vieira, meu doce tio Tadeu...Saudades!