15 de outubro - oficialmente, faz 6 meses da "cola" da nova medula....

Queridos amigos:

Hoje faz 180 dias, oficialmente, que recebi uma notícia maravilhosa lá no TMO: "Podemos comemorar, Letícia. Tua medula colou!", veio dizendo a dra Ires.

Dá para se imaginar como esta notícia repercutiu em mim, naquele momento? Tentarei descrever.

Quando fiquei doente de leucemia mielóide aguda (sabiam que eu não era paciente mas me tornei assim, de uma hora para outra?), entrei num novo mundo. Incredulidade, negação da doença, raiva, auto piedade ao extremo, medo, medo, muito medo. Experimentei diversas emoções. Assim, de repente.

Posso apenas assegurar que ao escutar o diagnóstico da dra Lygya, chorando baixinho, vendo nos olhos da Ju que me acompanhava e da médica lágrimas tristes, mergulhei numa luta interna, ambivalente, discrepante entre razão e emoção.

Mas, como toda história tem sempre um mas, disse rapidamente após escutar um monte de informações de como seria o tratamento, do que aconteceria comigo, do futuro transplante - então, dra. Lygya, quando e onde começo o tratamento?

Juro. Fui direta. Nunca imaginei tanta coragem. Nem tanto medo. Mas a razão falava mais alto. Meu anjinho-da-guarda prometia sucesso mesmo com uma luta insana que começava naquele momento. Contra o tempo. Mas com bom prognóstico, nunca duvidei.

Escutei naquele momento que o que me salvaria seria um transplante de medula óssea. Conseguem imaginar o que isto significa? Nunca havia conhecido alguém que tivesse feito qualquer tipo de transplante, muito menos de medula. Alguém com leucemia eu já tinha conhecido e acompanhado, com final infeliz - naquele tempo eu achava que a morte era um fim infeliz. Da Camila, de Criciúma, que morreu um ano e meio depois de MUITÍSSIMO sofrimento dela e dos que a cercavam. No dia que fazia 3 aninhos... Já contei esta história.

E agora, comemorando 6 meses pós auto transplante de medula óssea? Nem se eu disser mil vezes obrigada, meu Deus!, agradecerei o suficiente.

Posso traduzir da maneira mais simples que encontro neste momento, que ganhei mesmo um novo passaporte para viver. Minha segunda etapa de vida aqui debaixo. Recauchutada, física e espiritualmente...

"Enquanto a doença não tenha passado rente a nós, a vida nos parece infinita e acreditamos que sempre haverá tempo para lutarmos pela felicidade. ... Adiando sempre para o dia seguinte a busca do essencial, corremos o risco de deixar a vida escoar entre nossos dedos, sem jamais tê-la de fato saboreado. É essa curiosa miopia, essas hesitações que o câncer vem por vezes abalar. .." (estou lendo o livro Anticâncer, de David Servan-Schreiber, e vez em quando, citarei trechos que considero oportunos e importante, como este. Foi um dos belos presentes que ganhei, e este, especialmente, veio do Bira, meu queridissimo cunhado e mais que isso, parece um irmáo..).

Estou feliz, viva, curada, sem nenhuma dúvida. Faço hoje minha homenagem a Terezinha, Aura, Dalva, Felippe, Nando, Camila, que não resistiram e partiram por conta de problemas como o meu... Asseguro-lhes que sei da nossa finitude e que um dia, vamos nos encontrar, sem dores, sem sofrimento e abrigados no manto protetor lá de cima...

Beijos. Continuem em orações, por favor. A luta ainda é grande...