quarta-feira, 6 de agosto de 2008

4 de agosto - quatro meses pós-transplante! Vida nova...









































Começando pelas fotos: a primeira é para relembrar bons momentos, junto aos que tanto amo, como os meus filhos. Foi feita há cinco anos atrás, exatamente, nas bodas de ouro dos meus pais.

As outras, são destes últimos dias. Eu na formatura do Álvaro, meu cunhado, em Blumenau, numa baita festa. Outras, no aniversário da Sônia, com a turma. Todas com um só sentimento: alegria de viver.

Estou assim, passados cento e vinte dias pós auto-transplante da medula óssea. Em todas, a expressão é de vida. Vida nova, plena, cheia de saúde e amor prá dar. Meio brega esse meio jeito de dizer as coisas, mas deixo sair do coração do jeito que ele dita...

Faço uma comparação com o bendito dia 4 de abril de 2.008: eu estava assustada, entregue totalmente à medicina, cheia de fé, esperança e expectativa. No fundo, nunca imaginei que não fosse dar certo. NUNCAAAAAAAAAAAAA!

Mentira? Podem achar, não tem problema. Aliás, nunca me imaginei com LEUCEMIA MIELÓIDE AGUDA, M2. NUNCAAAAAAAAAAAAAAA.....

Acredito que se tivesse parado para pensar, tinha ficado com muito mais medo. Sempre entendi esta doença como algo gravíssimo, sem esperança de cura. Cura? Claro que não, sabia que quem tinha a doença, morria. Depois de sofrer um monte....

Droga. Não devia dizer isto. Mas estou sendo sincera. Vi isto na Camila, uma menina que aos 21 meses de vida, enfrentou esta doença, e no dia que fez 3 anos, morreu. Acompanhei o que pude, na época meu ex-marido era um dos pediatras que cuidava dela. Além de tudo, ela era neta da minha vizinha, bisneta da dona Lili, um dos anjos da guarda que cuidava de mim e dos meus , em Criciúma. Que saudade, dona Lili. Faria no próximo dia 12, 91 anos. Deu um exemplo de vida, até o fim. Ajudou sua bisneta(e família) a enfrentar o tratamento caríssimo, doando patrimônio e coragem. Mas a Camila não resistiu e morreu sofrendo. Lembro bem dos últimos dias, quando eu e a Nanda fomos levar uma bonequinha para ela, e assistimos uma cena horrível: quando sua mãe foi trocar a fralda, iniciava-se uma hemorragia por todos os poros (n0ssa...que cena...nem gosto de lembrar). Depois disso, ela foi levada para a UTI de onde não saiu mais. Mas , no dia anterior, quando sua mãe perguntou para ela quando tudo aquilo ia acabar, ela respondeu (note-se que ela faria 3 anos somente no dia seguinte): - "Mãe, não chore mais. Vai acabar quando eu nascer de novo!" . E ela morreu mesmo, no dia que faria 3 aninhos...

No velório, ninguém podia chorar porque a mãe dela não deixava. Lembrava o recado da filha. Não lembro de mais nada nesta altura de minha vida, que tenha me impressionado tanto quanto estas palavras da Camila. Ela já era um anjo. E tinha esta consciência. Usou palavras profundas, fora de qualquer vocabulário próprio de sua idade. Mas nos ensinou de que a morte é um renascimento... E que o sofrimento pararia, a vida ressurgiria com muito mais luz. E que morrer, é assim...

Foi assim que eu conheci uma leucemia. Aliás, só conhecia a Camila, como portadora de leucemia. E de repente, eu???????? Mas, peraí, aprendi, estava me esquecendo disso: por que não eu? Sou diferente da humanidade? Quer dizer, pensei que tivesse aprendido, não sou diferente de ninguém. O câncer me atingiu, sim. Sofro suas conseqüências, mas sou privilegiada, no dia 4 de abril de 2008, ganhei uma nova medula que sabe produzir melhor a vida. A minha estava prejudicada. Agora, sou outra. Corada, com índices bioquímicos (existe esta expressão?..rs), normais. Plaquetas quase no ponto certo, hemoglobina, hematócrito, leucócitos, tudo normais... Ando para lá e para cá, vivo mais intensamente, estou fazendo projetos e cuidando melhor de mim e dos meus.

Passados estes cento e vinte dias, minha cor vai voltando ao normal (a pele fica muito escura), a boca tá bem melhor (ainda incomoda um pouco pela secura e dor ao mastigar coisas mais pesadas), a pele está ainda um tanto seca com manchas localizadas, o peso é que não se altera muito pois ganhei apenas um quilo e meio a mais, mas não me canso muito e ando por aí com mais vigor. Enfim: estou inteiraça. Só tomo Bactrin nos fins-de-semana. Os outros remédios já foram suspensos.

Mesmo com os cabelos ralinhos, começando a nascer, não tou nem aí...Cabelos quase ausentes, unhas pretas, cor diferente, peso baixo, falta de maquiagem para não colocar qualquer produtos estranho em minha pele (não dispenso o batom vermelho e o lápis de olho, vez por outra), o que isto tem a ver? Quem me vê, garante que isto não está fazendo falta. E acredito...

Então, vai daqui o meu agradecimento aos meus filhos, pais, Jorge, irmãos, cunhados, sobrinhos, amigos, parentes em geral, a todos que se lembram de mim e pedem a Deus para que tudo continue bem. A cada dia escrevo uma nova história porque vivo um novo dia... Graças a Deus, a dra. Lygia, a todos os médicos, enfermeiros e pessoas que me ajudaram a enfrentar dignamente este este tratamento tão longo e daquelas que dependo para continuar assim!

VIVA A VIDA! Viva a vontade de viver. Viva a saúde, o amor, a alegria de não sentir dor. De ser dona do meu próprio nariz, de respeitar ainda mais as regras básicas da convivência e de um corpo mais saudável.








Um comentário:

. disse...

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