sexta-feira, 4 de julho de 2008

4 de julho: hoje faz 3 meses do auto transplante de medula óssea:









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."começa o transplante: quem aplica as bolsinhas de medula é a Michelle, enfermeira do dia, auxiliada pela Marisa que tem o cronômetro na mão e fica com quinhentos olhos em cima de mim...rs.. O médico observa tudo, enquanto a medula (linda, rosada) é descongelada e rapidamente infundida em mim. Foram três bolsas. O que eu sentia? Apesar de estar tranqüila, eu estava um pouco fora de mim. Nem articulava as palavras direito. Tinha que estar meio drogada e sonolenta. Mas a cada bolsa infundida, começava um calorão danado e um vermelhidão no corpo. Parecia que eu soltaria fumaça. Além disso, formigava tudo, um gosto horrível acontecia na boca, mas elas já tinham me dado um halls de cereja. Pigarros, tosses rápidas, tudo esperado. O coração disparava e a respiração ficava curta. "Vai passar, Letícia. Continua calma que está dando tudo certo"... Mas a sensação era estranha demais, quase mórbida. Mas durava pouco tempo (cada bolsa durou em torno de dois minutos).
Depois, dormi umas boas horas.
Acordei como se nada tivesse acontecido e já anunciei ao mundo que estava ótima. Obrigada meu Deus, por tudo! Obrigada a vocês que não cansam de pedir por mim.

Agora segue uma luta diária para esperar a cola da medula e o sucesso do auto transplante de medula óssea"...


Começo o texto relembrando o dia 4 de abril de 2008 - exatos três meses atrás, com algumas fotos tiradas neste exato momento, pela Cléo, secretária deste lar há dez anos...

Antes de mais nada, agradeço a fé que faz com que eu suporte tudo e entregue nas mãos de Deus, todos os meus dias e minha vida, totalmente. Mesmo que nem sempre a fé seja incondicional... Mas hoje é dia de agradecer , cair de joelhos e dizer amém!

Mas jamais irei negar que estivesse com muito medo. Estava. Apavorada, eu imagino. Morrendo de medo. Chorando baixinho como estou agora, só em relembrar...

Imaginando todos os fantasmas do mundo. Morrendo de vontade de sair daquele cenário hospitalar correndo, dizer ao mundo que aquele pesadelo estava vivo demais em mim e que eu não queria mais nada. Que esta droga de câncer me matava mais pelo pensamento do que pelo tratamento tão invasivo.

Que as quimioterapias, as dores, a solidão do hospital, a falta de uma vida normal, a saudade dos que amo, a impotência generalizada, a ausência de um mínimo de privacidade e autonomia (nossa, sempre achei que isso fosse tão normal para qualquer indivíduo), o gelado da situação além do ambiente da unidade de transplante de medula óssea (o ar é sempre gelado por conta da esterilização do ambiente), que a dor daquele cateter grandão espetado no meu pescoço, o rosto dos meus amigos de confinamento hospitalar, que tudo, tudo, tudo o que eu vivia naquele momento, por mais necessário que fosse, era absolutamente terrível.

Meu lamento de hoje está pesado, eu reconheço. Estou sendo incoerente, sentei aqui para agradecer a Deus, aos que me apóiam até hoje, as orações, e fico me lamentando. Talvez seja pelo fato de relembrar aqueles momentos vividos no dia 4 de abril de 2008. Por mais importante e bem sucedido que tenha sido, e foi, tive muito medo.

E agora, noventa dias depois, as lágrimas já secaram no meu rosto, neste momento. Volto a ser a Letícia alegria de sempre...

O sorriso volta a marcar meu semblante. A vida nova, o sangue recauchutado com a nova medula, a esperança, a ausência daquelas dores, a vontade de dizer muito obrigada, me transcende.

Estes novos noventa primeiros dias pós-transplante são a maior prova de que câncer nenhum afeta a cabeça de quem tem muita fé e acredita em milagres, medicina e nas pessoas, em geral. Sou prova viva de que tudo na vida passa!!!!

Queria encerrar este texto de um jeito estupendo, marcante. Mas nada mais tenho a dizer que acrescente mesmo mais dos meus sentimentos. Estou viva, inteira, agradecida, fortalecida e muito feliz . E felicidade nenhuma tem preço. É o que realmente importa: viver feliz. E assim estou vivendo...

Muito obrigada, Deus e vocês que amo. Mil vezes muito obrigada....






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