quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Nem consigo acreditar ainda que estou bem!

  • Queridos amigos e eventuais leitores: muito obrigada por tudo!

Faz uma semana hoje que voltei para a casa, que voltei a me alimentar, que as dores e incômodos estão me deixando... Gostaria de afirmar serenamente de que nunca perdi a fé, mas acho que não estaria sendo honesta...

Perdi, por algumas vezes. Me sentia tão fraquinha que nem acreditava que sairia daquela situação... Mas, graças a Deus, tive uma educação cristã firme e perseverante, estes momentos duravam pouco e logo eu me sentia cada vez mais iluminada.

Passei por momentos duríssimos, não lembro de muita coisa que me aconteceu, lembro somente de um grande mal-estar e depois disso, devem ter me ¨apagado¨ para não sentir aquilo. Tinha alguns momentos de consciência, mas fiquei mais apagada. Sonhava coisas duras, vi cenas reais mas que nunca existiram ¨realmente¨ falando. Mas vi... Tenho esta facilidade para ver, conversar e sentir algumas coisas que depois nem sei contar direito. Numa das cenas, tive a certeza da proteção de tios que já partiram intercedendo pela minha vida. Posso dizer que foi um momento inesquecível e único...

Agora quero tomar um banho de mar, comer frutos do mar, muitas frutas (isto eu já estou fazendo diariamente) e voltar a viver mais intensamente, esquecendo que o tratamento ainda não acabou.

O auto-transplante (quem acompanhou por aqui sabe que felizmente, a coleta feita foi tão bem sucedida que a médica disse que o material serve até para dois transplantes - claro que não vai precisar mais que um, tenho fé), deve acontecer em Março ou Abril. Até lá, já estou me esforçando a cada dia, para recuperar o peso e a saúde. Mas posso tranquilizar a quem torce por mim de que os exames laboratoriais feitos nesta semana e já avaliados pela minha ¨anja-da guarda¨, dra Lígia, mostram uma excelente recuperação e pouco ¨estrago¨. Os remédios para o coração já foram suspensos e me sinto bem, agora resta à mim exercícios físicos, disposição para o dia-a-dia e boa alimentação (esta parte ainda está difícil, mas meu apetite está melhorando).

Ontem, num canal de TV fechada, local, o o assunto era sobre ¨sangue e saúde¨ e alguns técnicos e usuários do Hemosc, falavam sobre a instituição, o voluntariado dos doadores, e a necessidade dos receptores. Logo que pude, liguei e disse que gostaria de dar um depoimento sobre tudo o que tenho passado. Perguntaram-me se eu gostaria de participar ao vivo e aceitei. Logo que me passaram a palavra, aproveitei para dizer mais ou menos o que segue: ¨sou Maria Letícia, e desde Agosto luto contra uma leucemia mielóide aguda. A doença foi descoberta logo (com um check-up) e desde que soube, já passei por 3 longas internações. Desde o primeiro momento, soube que o tratamento se faz com quimios e transfusões de hemácias e plaquetas, e minha família e amigos, passaram a buscar doadores de todos os lados. Desde então, o Hemosc passou a fazer parte de nossas vidas, especialmente da minha. Minha vida passou a depender desta instituição, dos voluntários e da tecnologia atual. E nunca faltou confiança, fé e tranquilidade de que tudo daria certo. Se hoje estou aqui dizendo ¨muito obrigada¨, foi pq estes anjos que estão aí representados, existem... Aproveito tbm para pedir ao povo que doe medula, é fácil e salva a vida de muita gente. Muito obrigada, muito obrigada e muito obrigada.¨.

Minha voz estava embargada pela emoção, assim como meus olhos e coração. Até do pessoal que me escutava e estava ali, também como aqui em casa, vi lágrimas.

Mas o meu coraçao precisa agradecer... Voltei inteira, quase toda recuperada e feliz. Nem imaginam o que isto me representa. Quero viver muito para fazer o bem e algo útil por aqueles que de repente, de descobrem necessitados como eu...

Estou em casa, recomeçando pequenas atitudes que fazia sem me dar conta de que era tão duro, como cozinhar, serviços domésticos, ler, etc...

Vou sair cantando, feliz:
Padre Zezinho - Há Um Barco Esquecido na Praia



Há um barco esquecido na praia
Já não leva ninguém a pescar
É o barco de André e de Pedro
Que partiram pra não mais voltar
Quantas vezes partiram seguros
Enfrentando os perigos do mar
Era chuva, era noite, era escuro
Mas os dois precisavam pescar

De repente aparece Jesus
Pouco a pouco se acende uma luz
É preciso pescar diferente
Que o povo já sente que o tempo chegou
E partiram sem mesmo pensar
Nos perigos de profetizar
Há um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia

Há um barco esquecido na praia
Já não leva ninguém a pescar
É o barco de João e Tiago
Que partiram pra não mais voltar
Quantas vezes em tempos sombrios
Enfrentando os perigos do mar
Barco e rede voltavam vazios
Mas os dois precisavam pescar

Quantos barcos deixados na praia
Entre eles o meu deve estar
Era o barco dos sonhos que eu tinha
Mas eu nunca deixei de sonhar
Quanta vez enfrentei o perigo
No meu barco de sonho a singrar
Jesus Cristo remava comigo
Eu no leme, Jesus a remar

De repente me envolve uma luz
E eu entrego o meu leme a Jesus
É preciso pescar diferente
Que o povo já sente que o tempo chegou
E partimos pra onde ele quis
Tenho cruzes mas vivo feliz
Há um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia



Um comentário:

Unknown disse...

Esta é minha mana Letícia. Tuas palavras emocionaram porque vieram do fundo do coração. Somente alguém tão especial quanto tu, após passar por tanta dor e sofrimento, lembraria de agradecer àqueles que te ajudaram - esta é tua essência, cada vez mais iluminada, e que vai te levar à cura definitiva! TE AMO, LETÍCIA, E CADA DIA MAIS, ESTOU ORGULHOSA DE TER UMA IRMÃ COMO TU! Beijos grandes, Bea